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O ‘inconstante’ Futuro da Indústria Automóvel, Pedro Silva, OPCO

jornaldasoficinas.com

NOV 2022

Numa entrevista exclusiva ao Jornal das Oficinas, Pedro Silva, diretor geral da OPCO deu algumas “luzes” de como estará a Indústria automóvel daqui em diante

A indústria automóvel está em constante alteração, estima-se que nos próximos cincos anos, este setor, vá crescer mais do que nos últimos 50 anos. Os fabricantes de equipamentos originais e os fornecedores convencionais, devem preparar-se para uma evolução de tecnologias transformadoras e para uma mudança de comportamento do consumidor, que procura cada vez mais uma experiência completa e individualizada. Nos próximos anos, os fabricantes e fornecedores globais, vão enfrentar alguns desafios, é o caso dos veículos conectados, autónomos, mobilidade elétrica, indústria digital, novos canais de distribuição, nova estrutura de clientes e uma melhoria da interface entre o homem e a máquina.

Mas qual deles será o futuro? Pedro Silva, diretor geral da OPCO, responde a esta e a outras perguntas, numa entrevista exclusiva ao Jornal das Oficinas, sobre o futuro da indústria automóvel.

A indústria automóvel está a mudar a um ritmo acelerado. Quais os novos desafios que fornecedores e fabricantes vão enfrentar?
Creio que desafios é a palavra adequada e, nesse caso, temos que dividir em dois tipos. Por um lado, temos os desafios imediatos, com as alterações das cadeias de fornecimento, as faltas de matéria-prima e as alterações na procura e oferta, onde já começamos a incluir ameaças a médio-prazo, por exemplo, entre as formas de mobilidade. Por outro lado, temos os desafios a médio-longo prazo. Neste caso, há que questionar: que tipo de mobilidade irá prevalecer? Elétrica, hidrogénio ou outra? Então e os desafios relativos à utilização ou partilha do automóvel? Claro que todos estes irão moldar a oferta a curto, médio e longo prazo e, tal como na evolução das espécies, aquele que se conseguir adaptar melhor, prevalecerá.

Quais as principais mudanças que a indústria automóvel está a atravessar?
A indústria automóvel está a enfrentar diversas mudanças. Desde as fontes de energia, a disponibilidade dessas mesmas fontes, bem como de matéria-prima, as alterações na procura ou na servicilização da mobilidade. Há alguns anos, quando iniciei a minha carreira nesta indústria, podíamos centrar as alterações em termos de design/marketing ou, a nível de indústria, em quem conseguia otimizar as cadeias de fornecimento, a produção e a entrega. Hoje, para além dessas variáveis, muitas mais se unem, inclusive com novos players no mercado. Quem diria, há 20 anos, que empresas como a Google ou a Apple poderiam vir a ser players nesta indústria? A partir daqui, temos todas as variáveis em cima da mesa, numa verdadeira mudança de paradigma.

Assistimos a um novo paradigma na indústria automóvel: a mudança na estrutura de clientes. A mudança de um sistema baseado no veículo próprio para um sistema baseado no veículo partilhado. O “Mobility on demand” será o futuro?
Esta é uma excelente pergunta, especialmente para alguém da minha geração, mas acredito que sim, que seja o futuro. Alguém nascido no século XX está ainda muito ligado à disponibilidade do carro, à imagem que este transmite, ao conceito de posse mas, olhando para as novas gerações, como a dos meus filhos, vê-se que o futuro será muito diferente. Esta nova geração já procura um serviço, querem flexibilidade, e a economia mundial está a dar-lhes razão. Não querem um horário “nine to five” para pagar, entre outras coisas, o carro. Querem sim flexibilidade, disponibilidade, autonomia e isso, sim, definirá a forma de deslocação no futuro. Creio que ainda subsistirá algum sentido de posse no que diz respeito aos veículos automóveis, mas receio que seja mais uma esperança de alguém que nasceu no século XX, como eu, do que uma realidade futura.

Terá Portugal profissionais especializados capazes de dar vazão às necessidades atuais? O que é necessário fazer?
Acredito que profissionais terá, certamente. Quanto à nacionalidade, há que pensar num mercado global, apesar das tendências atuais nos levarem mais pela localização, ao invés da globalização. Se nos referirmos apenas às competências, não tenho dúvidas de que “não devemos nada a ninguém”. Não me refiro aos recém-licenciados, onde ainda vejo um caminho a percorrer, especialmente no que diz respeito à adaptação às empresas, quando entram no mercado de trabalho. No entanto, se estivermos a falar de profissionais com alguns anos de experiência (3 a 5 anos), aí podemos estar descansados. Contudo, há que olhar este aspeto sob outro prisma, que tem exatamente a ver com as novas tecnologias e às competências a estas associadas. Aqui sim, há que ser célere e adaptar conteúdos programáticos e qualificações, entre outros, às novas necessidades.

Diz-se que os veículos tradicionais de combustão interna, os híbridos e os elétricos a bateria, deverão coexistir globalmente até 2030. É uma realidade ou o futuro passa apenas pela mobilidade elétrica ou hidrogénio?
Creio que ainda é cedo para dizer e, sejamos honestos, entre mobilidade elétrica e hidrogénio, ainda há muito caminho para ser traçado. É necessário trabalhar, desenvolver, adaptar e decidir e, no entretanto, certamente outras tecnologias aparecerão, como por exemplo, combustíveis “verdes”, pelo que, entre a vontade política e a exequibilidade tecnológica, há muito trabalho pela frente. De qualquer forma, quanto à coexistência, creio que será uma realidade, pois as necessidades são várias. Se virmos entre as necessidades de uma transportadora e as de um cidadão, e cruzarmos com as tecnologias existentes, verifica-se facilmente que o que serve a um, não servirá ao outro. Assim, coexistência sim, elétricos, híbridos ou hidrogénio sim, mas provavelmente com ainda mais variáveis pelo meio.

Quais as previsões para 2023 em relação à falta de matérias-primas?
Esta é uma questão bastante desafiante, neste caso devido a vários fatores. Em relação a matérias-primas de base, como aço, polímeros, entre outros, o mercado está a estabilizar, mas pende a questão dos preços. Relativamente a matérias-primas como chips e semicondutores, entre as guerras comerciais e boicotes, por exemplo dos EUA à China, o mercado voltará também a estabilizar, mas as consequências que podem advir de fatores geopolíticos são difíceis de prever. No que toca a matérias-primas como lítio, cobalto ou outros necessários às novas formas de mobilidade, já em 2018, quando uma das OEM’s alemãs colocou como objetivo passar totalmente para a mobilidade elétrica, no prazo de alguns anos, a produção mundial de cobalto não chegaria para os volumes de produção dessa OEM, quanto mais para as restantes aplicações. Terá que se garantir uma convergência entre as reservas, formas de extração e processamento e as tecnologias disponíveis. Ainda em relação a este tema, e como o assunto não se pode ver apenas do ponto de vista de existências, mas também do ponto de vista de mercados, creio que 2023 será um ano ainda afetado por este tema.

Quais os apoios do estado para a indústria automóvel?
Relativamente a este tema, temos vários projetos disponíveis, desde apoios à formação, apoios à inovação, incluindo inovação produtiva, apoios à transição energética, entre vários outros.

Acredito que seja um tema difícil, especialmente para a típica PME portuguesa, pelo que o contacto com as associações industriais é de extrema importância. Associações como a MOBINOV ou a AFIA, para além de outras associações ligadas às várias tecnologias do setor automóvel, serão o melhor caminho no sentido de apoiar as empresas nesse percurso.

Como vai estar a indústria automóvel em 2030?
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